GOVERNADOR GOIANO VIRA A PÁGINA DO IRISMO E TORNA-SE
POLÍTICO INVICTO COM MAIOR POPULARIDADE NA HISTÓRIA DE GOIÁS
DIÁRIO DA MANHÃ - WELLITON CARLOS
A vitória de Marconi Perillo (PSDB) frente ao seu eterno
adversário peemedebista, ex-governador Iris Rezende, marca uma trajetória
política brilhante até aqui. O atual governador de Goiás jamais perdeu uma
eleição. E, paradoxalmente, encarna o mito de “Fênix”, que renasce das cinzas,
quando todos acreditavam estar derrotado.
|
Marconi Perillo foi reeleito - 4º mandato de governador |
Inicialmente nas cordas por meio de uma estratégia do
ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, conforme denúncias da imprensa e
políticos, para encobrir o mensalão, Perillo foi o único dos ameaçados pela CPI
petista a sair vitorioso das urnas ontem. Agnelo Queiroz (PT), atual governador
do Distrito Federal, vítima do fogo amigo, sequer passou para o segundo turno.
De 2012 a 2014, Marconi saiu de uma corrente de forças negativas instaladas
pela CPI e seguiu freneticamente rumo a vitória mais espetacular e folgada
frente ao irismo e aliados.
O trunfo central de Perillo, até 2010, tinha sido seu modelo
de gestão. Diversos estudos e pesquisas científicas promovidas pela Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Fundação de Amparo a
Pesquisa de Goiás (Fapeg) têm indicado que Perillo é, desde Mauro Borges, o
único gestor a investir de forma detalhada no planejamento. Este fator é
investigado, por exemplo, por Adailton da Silva, em pesquisa para a
Universidade Federal de Goiás (UFG).
Na investigação sociológica, ocorre uma comparação dos dois
planos de governo, de Mauro e Marconi, no tocante às condicionantes sociais e
ideológicas, além das questões de planejamento e prioridades setoriais.
“Para o segundo governo estudado, observa-se a recuperação
do modelo de ação estatal criado durante o governo Mauro Borges.”
A pesquisa mostrou, contudo, que a primeira gestão de
Perillo foi além daquela de Mauro Borges na área social, mas travou em um tema
que foi amplamente debatido na sociedade: o orçamento democrático, que era uma
alternativa ao orçamento participativo alardeado, mas não adotado pela
“esquerda”.
A marca da gestão de Perillo, afirma o pesquisador, seria
seu equilíbrio: atuar no modelo “neoliberal”, mas utilizando o Estado como
fomentador da economia. “Apesar de compartilhar com o neoliberalismo e à
prioridade no ajuste fiscal e de ter realizado privatizações de empresas
públicas, na prática, o governo Marconi Perillo se alicerça em forte vinculação
entre Estado e economia, que mantém o setor público atuando como indutor de
investimentos privados”, diz.
Com um modelo político modernizante, portanto, afinado com a
economia de seu tempo, mas garantista no social, Marconi conseguiu romper
recordes políticos. Sua vitória o insere no rol dos governadores com melhor
performance popular na história do Brasil.
Jamais um político goiano venceu tantas eleições, em um
sistema democrático, baseado no sistema de maioria de sufrágios. No Brasil,
apenas dois políticos obtiveram tantas vitórias (a governadora Roseana Sarney,
no Maranhão, e Siqueira Campos, no Tocantins).
RENDA CIDADÃ
Dentre as ações sociais de Marconi, as de maior destaque são
as de repercussão nacional, caso do Renda Cidadã, que Lula resolveu adaptar
como Bolsa Família, e o Bolsa Universitária, que recebeu na gestão federal o
nome de ProUni.
Na terceira gestão, Marconi inovou mais uma vez nas ações
sociais ao propor o Passe Livre para estudantes e ao instituir o Bolsa Futuro.
Tendo em vista um enorme campo de necessidades para
percorrer, o governador reeleito procurou distribuir o orçamento em cada área
contemplada pela Constituição do Estado. Na cultura, por exemplo, Marconi criou
espaços públicos e esferas de debate cultural na mesma medida em que assentou o
fundo para subsidiar manifestações artísticas. Antes de Perillo, nenhum
governador, fora Henrique Santillo, havia investido na área. Perillo criou o
Centro Cultural Oscar Niemeyer, na Capital, e em Goiás, o Festival
Internacional de Cinema Ambiental (Fica), primeiro evento realmente
internacional do Estado.
Com tamanho arsenal de ações, as comparações com gestores
anteriores e próximos, caso de Iris Rezende (PMDB), Maguito Vilela (PMDB) e
Alcides Rodrigues (PSB), acabaram se esvaindo. Nenhum deles, em nenhuma área,
chegou a ameaçar a supremacia tucana em Goiás.
GOVERNADOR SE APRIMORA NA ARTICULAÇÃO POLÍTICA
Em 2014, restou a Marconi Perillo temperar uma área em que
não era muito bom: a política. Com a morte de um de seus inspiradores, o
advogado e ex-deputado federal Fernando Cunha, em 2011, durante a maior crise
política do atual governador, sobrou a ele restaurar um novo modelo de ação: a
recuperação da imagem pública em curto espaço de tempo por meio de esforço de
gestão. Perillo – para disputar a reeleição – almejava atingir 40% de aprovação
de seu terceiro mandato. Dito e feito, o gestor investiu em temas melindrosos,
caso de saúde e segurança pública com ações inovadoras – como a ampliação do
efetivo de segurança com o Simve, um grupo de policiamento militar voluntário.
Durante o período anterior ao processo eleitoral, o
governador mostrou um panorama inédito na política de Goiás: a potencialidade
de ter apoios até mesmo de prefeitos da oposição. O fato acabou se confirmado
logo nas primeiras semanas de campanha, com apoio de prefeitos do PT e do PMDB
– partidos antagonistas nas urnas.
Do ponto de vista político, a ação de Perillo foi ainda mais
agressiva do que daquelas programadas no passado por Fernando Cunha. Para
reforçar seu capital político, outra carta na manga: a capacidade de articular
discurso e propaganda. A superioridade foi vista nos debates e nos programas
eleitorais, onde preferiu agir conforme o ritmo dos ataques dos
adversários.
Atrelados às noções atrasadas de política, em 2014, Iris
Rezende se apegava ainda ao seu primeiro mandato e usava termos do passado,
como “a população ouvirá o ronco das máquinas quando for eleito” e “vamos
realizar mutirões”. A última expressão, para se ter ideia, é usual na
agricultura de subsistência subsequente ao fim da Lei de Sesmarias, do século
XVII. Assim, sem discurso convincente e incapacidade de perceber a modernidade,
Iris foi uma presa fácil para Marconi Perillo.
|
Marconi Perillo venceu Iris novamente |
MOMENTOS QUE MARCARAM A CAMPANHA DA BASE
A campanha eleitoral da base aliada foi impecável nas
costuras políticas, produção de publicidade e condução das animosidades da
disputa. Durante a campanha, o grupo se
aliou a uma equipe criativa nas redes sociais, jornalistas competentes na
repercussão de notícias e bons articuladores políticos, além de equipe jurídica
ativa na defesa dos direitos dos candidatos.
A vitória não ocorre por acaso. Diversas frentes se
revezaram na atuação do governador eleito, que liderou sua equipe com duas
orientações: fazer campanha propositiva e rebater cada provocação ou crítica
com dados, estatísticas e linguagem racional.
Marconi Perillo confidenciou ao DM que durante a campanha
dormia cerca de três a quatro horas por dia e monitorava a disputa quase que
diariamente através de pesquisas e consultas às lideranças dos partidos
aliados.
O grupo eleito apresentou um modelo de ação diferenciado e
não chegou a pautar os temas de debate de campanha, mas se defendeu com
profissionalismo e acurácia.
Na primeira semana de campanha, em julho, a oposição
apresentou o assunto introdutório para debate político: segurança. A equipe do PMDB chegou a convocar
coletiva para apresentar dados sobre criminalidade e violência, mas sem
fundamentos, pesquisa e coerência, foi
rebatida facilmente pelos técnicos de governo. PMDB e PSB insistiram no tema,
ocupando o espaço público com o debate sobre o número de homicídios.
A base aliada venceu o discurso quando, na reta final da
campanha de segundo turno, através de um ato administrativo, apresentou o autor
de quase 40 homicídios, atestando a competência investigativa da atual gestão.
A prisão do suposto serial killer neutralizou a
campanha de Iris Rezende e imobilizou Ronaldo Caiado, senador eleito,
que tentava se apresentar simbolicamente como “xerife” da oposição.
O grupo que desejava o poder insistiu em outros temas, caso
da corrupção e da criação de um arquétipo que visava enquadrar Marconi Perillo
como “ditador”, por “vencer” tantas eleições. A base se defendeu ao mostrar que
Iris, na verdade, era o “mandão”, pois impedia que jovens lideranças surgissem
na política goiana – caso de Henrique Meirelles, Vanderlan Cardoso e Júnior
Friboi.
No tema corrupção, a base foi vitoriosa, ao usar argumentos
como a presunção da inocência e o envolvimento dos adversários em esquemas
ainda mais gravosos. O PMDB sofreu ataques fatais, pois foi considerado
protagonista no mais rumoroso caso de corrupção de Goiás – o caso Caixego,
ocorrido na década de 1990. Sem argumentos propositivos, a oposição acompanhou
estocadas dos governistas, caso das comparações de obras e ações sociais.
Ao fim, a ação proativa do vice José Eliton (PP) em regiões
como Norte e Entorno, além de sua contraposição às críticas de Caiado, e as
ações contabilizadas em pavimentação, saúde (caso da construção do Hugo 2) e a
gestão de temas sensíveis (caso da água) foram se acumulando ao já consolidado
investimento no social.
Ao fim restou apenas administrar o resultado, mais uma vez
suplantando a ambição irista.