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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

MARCONI SE CONSOLIDA COMO MAIOR LIDERANÇA DE GOIÁS

GOVERNADOR GOIANO VIRA A PÁGINA DO IRISMO E TORNA-SE POLÍTICO INVICTO COM MAIOR POPULARIDADE NA HISTÓRIA DE GOIÁS

DIÁRIO DA MANHÃ - WELLITON CARLOS

A vitória de Marconi Perillo (PSDB) frente ao seu eterno adversário peemedebista, ex-governador Iris Rezende, marca uma trajetória política brilhante até aqui. O atual governador de Goiás jamais perdeu uma eleição. E, paradoxalmente, encarna o mito de “Fênix”, que renasce das cinzas, quando todos acreditavam estar derrotado.

Marconi Perillo foi reeleito - 4º mandato de governador
Inicialmente nas cordas por meio de uma estratégia do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, conforme denúncias da imprensa e políticos, para encobrir o mensalão, Perillo foi o único dos ameaçados pela CPI petista a sair vitorioso das urnas ontem. Agnelo Queiroz (PT), atual governador do Distrito Federal, vítima do fogo amigo, sequer passou para o segundo turno. De 2012 a 2014, Marconi saiu de uma corrente de forças negativas instaladas pela CPI e seguiu freneticamente rumo a vitória mais espetacular e folgada frente ao irismo e aliados.

O trunfo central de Perillo, até 2010, tinha sido seu modelo de gestão. Diversos estudos e pesquisas científicas promovidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Fundação de Amparo a Pesquisa de Goiás (Fapeg) têm indicado que Perillo é, desde Mauro Borges, o único gestor a investir de forma detalhada no planejamento. Este fator é investigado, por exemplo, por Adailton da Silva, em pesquisa para a Universidade Federal de Goiás (UFG). 

Na investigação sociológica, ocorre uma comparação dos dois planos de governo, de Mauro e Marconi, no tocante às condicionantes sociais e ideológicas, além das questões de planejamento e prioridades setoriais.

“Para o segundo governo estudado, observa-se a recuperação do modelo de ação estatal criado durante o governo Mauro Borges.”

A pesquisa mostrou, contudo, que a primeira gestão de Perillo foi além daquela de Mauro Borges na área social, mas travou em um tema que foi amplamente debatido na sociedade: o orçamento democrático, que era uma alternativa ao orçamento participativo alardeado, mas não adotado pela “esquerda”.

A marca da gestão de Perillo, afirma o pesquisador, seria seu equilíbrio: atuar no modelo “neoliberal”, mas utilizando o Estado como fomentador da economia. “Apesar de compartilhar com o neoliberalismo e à prioridade no ajuste fiscal e de ter realizado privatizações de empresas públicas, na prática, o governo Marconi Perillo se alicerça em forte vinculação entre Estado e economia, que mantém o setor público atuando como indutor de investimentos privados”, diz.

Com um modelo político modernizante, portanto, afinado com a economia de seu tempo, mas garantista no social, Marconi conseguiu romper recordes políticos. Sua vitória o insere no rol dos governadores com melhor performance popular na história do Brasil.

Jamais um político goiano venceu tantas eleições, em um sistema democrático, baseado no sistema de maioria de sufrágios. No Brasil, apenas dois políticos obtiveram tantas vitórias (a governadora Roseana Sarney, no Maranhão, e Siqueira Campos, no Tocantins).

RENDA CIDADÃ

Dentre as ações sociais de Marconi, as de maior destaque são as de repercussão nacional, caso do Renda Cidadã, que Lula resolveu adaptar como Bolsa Família, e o Bolsa Universitária, que recebeu na gestão federal o nome de ProUni.

Na terceira gestão, Marconi inovou mais uma vez nas ações sociais ao propor o Passe Livre para estudantes e ao instituir o Bolsa Futuro.

Tendo em vista um enorme campo de necessidades para percorrer, o governador reeleito procurou distribuir o orçamento em cada área contemplada pela Constituição do Estado. Na cultura, por exemplo, Marconi criou espaços públicos e esferas de debate cultural na mesma medida em que assentou o fundo para subsidiar manifestações artísticas. Antes de Perillo, nenhum governador, fora Henrique Santillo, havia investido na área. Perillo criou o Centro Cultural Oscar Niemeyer, na Capital, e em Goiás, o Festival Internacional de Cinema Ambiental (Fica), primeiro evento realmente internacional do Estado. 

Com tamanho arsenal de ações, as comparações com gestores anteriores e próximos, caso de Iris Rezende (PMDB), Maguito Vilela (PMDB) e Alcides Rodrigues (PSB), acabaram se esvaindo. Nenhum deles, em nenhuma área, chegou a ameaçar a supremacia tucana em Goiás.

GOVERNADOR SE APRIMORA NA ARTICULAÇÃO POLÍTICA

Em 2014, restou a Marconi Perillo temperar uma área em que não era muito bom: a política. Com a morte de um de seus inspiradores, o advogado e ex-deputado federal Fernando Cunha, em 2011, durante a maior crise política do atual governador, sobrou a ele restaurar um novo modelo de ação: a recuperação da imagem pública em curto espaço de tempo por meio de esforço de gestão. Perillo – para disputar a reeleição – almejava atingir 40% de aprovação de seu terceiro mandato. Dito e feito, o gestor investiu em temas melindrosos, caso de saúde e segurança pública com ações inovadoras – como a ampliação do efetivo de segurança com o Simve, um grupo de policiamento  militar voluntário.    

Durante o período anterior ao processo eleitoral, o governador mostrou um panorama inédito na política de Goiás: a potencialidade de ter apoios até mesmo de prefeitos da oposição. O fato acabou se confirmado logo nas primeiras semanas de campanha, com apoio de prefeitos do PT e do PMDB – partidos antagonistas nas urnas.

Do ponto de vista político, a ação de Perillo foi ainda mais agressiva do que daquelas programadas no passado por Fernando Cunha. Para reforçar seu capital político, outra carta na manga: a capacidade de articular discurso e propaganda. A superioridade foi vista nos debates e nos programas eleitorais, onde preferiu agir conforme o ritmo dos ataques dos adversários.   

Atrelados às noções atrasadas de política, em 2014, Iris Rezende se apegava ainda ao seu primeiro mandato e usava termos do passado, como “a população ouvirá o ronco das máquinas quando for eleito” e “vamos realizar mutirões”. A última expressão, para se ter ideia, é usual na agricultura de subsistência subsequente ao fim da Lei de Sesmarias, do século XVII. Assim, sem discurso convincente e incapacidade de perceber a modernidade, Iris foi uma presa fácil para Marconi Perillo.

Marconi Perillo venceu Iris novamente
MOMENTOS QUE MARCARAM A CAMPANHA DA BASE

A campanha eleitoral da base aliada foi impecável nas costuras políticas, produção de publicidade e condução das animosidades da disputa.  Durante a campanha, o grupo se aliou a uma equipe criativa nas redes sociais, jornalistas competentes na repercussão de notícias e bons articuladores políticos, além de equipe jurídica ativa na defesa dos direitos dos candidatos. 

A vitória não ocorre por acaso. Diversas frentes se revezaram na atuação do governador eleito, que liderou sua equipe com duas orientações: fazer campanha propositiva e rebater cada provocação ou crítica com dados, estatísticas e linguagem racional.

Marconi Perillo confidenciou ao DM que durante a campanha dormia cerca de três a quatro horas por dia e monitorava a disputa quase que diariamente através de pesquisas e consultas às lideranças dos partidos aliados.

O grupo eleito apresentou um modelo de ação diferenciado e não chegou a pautar os temas de debate de campanha, mas se defendeu com profissionalismo e acurácia.

Na primeira semana de campanha, em julho, a oposição apresentou o assunto introdutório para debate político:  segurança. A equipe do PMDB chegou a convocar coletiva para apresentar dados sobre criminalidade e violência, mas sem fundamentos, pesquisa e  coerência, foi rebatida facilmente pelos técnicos de governo. PMDB e PSB insistiram no tema, ocupando o espaço público com o debate sobre o número de homicídios.

A base aliada venceu o discurso quando, na reta final da campanha de segundo turno, através de um ato administrativo, apresentou o autor de quase 40 homicídios, atestando a competência investigativa da atual gestão. A prisão do suposto serial killer neutralizou a  campanha de Iris Rezende e imobilizou Ronaldo Caiado, senador eleito, que tentava se apresentar simbolicamente como “xerife” da oposição.

O grupo que desejava o poder insistiu em outros temas, caso da corrupção e da criação de um arquétipo que visava enquadrar Marconi Perillo como “ditador”, por “vencer” tantas eleições. A base se defendeu ao mostrar que Iris, na verdade, era o “mandão”, pois impedia que jovens lideranças surgissem na política goiana – caso de Henrique Meirelles, Vanderlan Cardoso e Júnior Friboi.

No tema corrupção, a base foi vitoriosa, ao usar argumentos como a presunção da inocência e o envolvimento dos adversários em esquemas ainda mais gravosos. O PMDB sofreu ataques fatais, pois foi considerado protagonista no mais rumoroso caso de corrupção de Goiás – o caso Caixego, ocorrido na década de 1990. Sem argumentos propositivos, a oposição acompanhou estocadas dos governistas, caso das comparações de obras e ações sociais.

Ao fim, a ação proativa do vice José Eliton (PP) em regiões como Norte e Entorno, além de sua contraposição às críticas de Caiado, e as ações contabilizadas em pavimentação, saúde (caso da construção do Hugo 2) e a gestão de temas sensíveis (caso da água) foram se acumulando ao já consolidado investimento no social.


Ao fim restou apenas administrar o resultado, mais uma vez suplantando a ambição irista.  

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